sábado, 14 de dezembro de 2013

TRILHAS SONORAS INESQUECÍVEIS - MANDALA

A novela não foi grande coisa. A promessa de trazer o mito de Édipo para os dias atuais - situando o romance entre Jocasta e Laio no auge da ditadura militar - e a ousadia de contar uma história de amor entre mãe e filho que não sabiam de tal condição não encontrou fôlego para uma narrativa longa e ainda foi prejudicada pela ação da Censura, que não viu com bons olhos a sinopse da trama de Dias Gomes - talvez lhes fosse saudável conhecer um pouco mais sobre teatro grego, afinal. Acontece que "Mandala" não ficou marcada no imaginário popular, a despeito de alguns personagens populares, como o bicheiro Tony Carrado, vivido por Nuno Leal Maia na sua melhor atuação de sua carreira.

Porém, se a trama deixou a desejar, a trilha sonora da novela agradou em cheio. Tanto a versão nacional - que inclui a hoje clássica "O amor e o poder" - quanto a internacional - que conta com Whitney Houston, U2 e Duran Duran, entre outros - são infinitamente superiores ao que a Globo lança hoje em dia (com raríssimas exceções). Para estrear a sessão "Trilhas Inesquecíveis", vamos relembrar as canções que fizeram parte da vida dos espectadores globais entre outubro de 1987 e maio de 1988.


O lado A - sim, a trilha é do tempo dos discos de vinil - começa com a música de abertura da novela, a instrumental "Mitos", de César Camargo Mariano, que já dava o tom místico que Dias e Marcílio Moraes tentavam imprimir à trama - Laio (Taumaturgo Ferreira na primeira fase, Perry Salles na segunda) tinha um guru, Argemiro (Marco Antonio Pâmio dividindo o papel com Carlos Augusto Strazzer), com quem mantinha uma amizade bastante suspeita, nunca explorada a contento, provavelmente devido ao olho vigilante da Censura. A segunda música da trilha - que tem Vera Fischer na capa, esbanjando a beleza que havia privado dos telespectadores por seis anos de um auto-exílio nos palcos - é "Viagem ao fundo do ego", da banda Egotrip, que ilustrava as aventuras do publicitário Édipo (Felipe Camargo) em Brasília, onde morava com os pais adotivos (Angela Leal e Oswaldo Loureiro) ou no Rio de Janeiro, para onde se muda no início da novela. Depois, é a vez de "Dou-não-dou", na voz de Djavan, música-tema do romance juvenil entre Laio e Jocasta (Giulia Gam estreando em novelas com destaque merecido). "O amor e o poder", que levou Rosana aos primeiros lugares das paradas de sucesso, é a quarta faixa, embalando os devaneios românticos da protagonista interpretada por Vera (e cujo "como uma deusa" do refrão inspirou o apelido da personagem, dado pelo eterno apaixonado Tony Carrado).

Alceu Valença vem logo em seguida com "Bobo da corte", tema do octogenário Vovô Pepê (Paulo Gracindo), avô de Jocasta que dava trabalho à família com suas tiradas aparentemente sem sentido. A bela "Um dia, um adeus", de Guilherme Arantes, era o tema de amor entre Vera (Imara Reis) e Creonte (Gracindo Jr.), irmão de Jocasta. "Meu mestre coração", na voz tranquila de Milton Nascimento, era a moldura perfeita para Gerson (Osmar Prado), outro irmão de Jocasta, que volta ao Brasil depois de anos, transformado em monge budista e se apaixona por Mariana (Bia Seidl). E o primeiro lado encerrava-se com "A paz", obra-prima de Gilberto Gil, gravada por Zizi Possi. A linda canção acompanhava Letícia (Lúcia Veríssimo), namorada de Édipo, que posteriormente tem que brigar por ele com Jocasta.

O lado B da trilha nacional de "Mandala" é aberto com "Eu já tirei a tua roupa", que tem em Wando o intérprete ideal para comentar a paixão obsessiva de Tony Carrado por Jocasta. "Personagem", cantada por Fafá de Belém, vem logo em seguida, sendo a música dos pais adotivos de Édipo, Mercedes (Angela Leal) e Américo (Oswaldo Loureiro). "Eu quero o absurdo", na doce voz da atriz Tânia Alves é a terceira faixa, tema de Eurídice (Aída Leiner), que se envolve em um relacionamento com Apolinário Santana (Milton Gonçalves), um político casado. Zeca Pagodinho - longe de ser a quase unanimidade nacional que é hoje - comparece com "Tempo de Don Don", música do personagem de Milton. Via Negromonte - hoje atriz e casada com Nelson Xavier - é a intérprete de "Preconceito", tema de Marlucy (Anna Gallo). "Perdão", com o grupo Areia Quente, era o tema de Débora (Maria Ferreira), enquanto a banda gaúcha Garotos da Rua emplacou "Eu já sei", que era a música de Toninho (Jandir Ferrari), filho de Carrado que se envolve com Marlucy. O disco encerra com outra composição de César Camargo Mariano, "Uma mulher", também dedicada à Jocasta.


O LP internacional contava com Lúcia Veríssimo na capa. Deslumbrante, ela vinha de uma crise pessoal que resultou na sua demissão da Globo à época da novela "Roda de fogo" e encantava o público como Letícia, a apaixonada noiva de Édipo. O disco abria com "A matter of feeling", canção da banda Duran Duran que era trilha do romance entre Toninho e Marlucy. O tema de Jocasta era a linda "Didn't we almost have it all", na voz saudosa de Whitney Houston e a trilha seguia com "Sugar free", do grupo Wa Wa Nee e a inesquecível "With or without you", do U2. Letícia tinha seus dramas comentados por Glenn Medeiros e sua "Nothing's gonna change my love for you" e Little Stevens marcava presença com "Bitter fruit". O primeiro lado acabava com "No conversation", tema de Vera, cantado pelo grupo View from the hill.

O lado B começava muito bem, com a hoje clássica "Luka", da cantora folk norte-americana Suzanne Vega e segue com "Never say goodbye", do galã Bon Jovi - tema de amor entre Gerson e Mariana. Lisa Lisa & The Cult Jam, famosíssimos nos anos 80, apresentavam "Lost in emotion", enquanto Cutting Crew invadia as rádios com "I've been in love before", que ilustrava as emoções de Tony Carrado. A vida agitada de Édipo era comentada pela agitada "Let the sun shine in your heart", da banda Wind e a atualmente vintage Tiffany deixava sua marca com seu maior hit "I think we're alone now". Fechando o álbum, Kenny G. mostrava sua técnica com a bela "Songbird", que muito embalou romances nascidos em sua época.

Mesmo que tenha sido uma novela que não vale a pena ver de novo, "Mandala" mantém seu título de uma das mais interessantes trilhas sonoras, que sobrevive ao tempo, apesar de tudo. Afinal, quem nunca cantou "como uma deusaaaaa" a plenos pulmões não sabe o que é ser brega.

Um comentário:

  1. Não sabe oq é ser brega, mas também não sabe oq é ser feliz! hahhahahah

    Por favor, sério, continua com esse blog? E não deixa de falar de músicas? E posso fazer um pedido também? Comente as trilhas das series da Globo de ultimamente? Como Pe na Cova e (mesmo q com um texto não brilhante hehe) Tapas e Beijos? Ah, e claro, A Mulher do Prefeito! Sério, faz esse post pra mim?

    E quando leio sobre essas músicas.. principalmente as nacionais.. me dá uma dor no coração de saber que hoje em dia tá difícil ter música boa assim! É bem raro. A salvo Sangue Bom e Amor Á Vida.

    Zukm.t, tt
    ppb
    bjooo

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