sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

PORQUE A VOZ DO BRASIL NÃO ME REPRESENTA

Que o Brasil adora importar programas de sucesso de outros países não é novidade, haja visto a proliferação dos chamados reality shows que dominam a televisão nacional há alguns anos. Criticados ferozmente como lixo cultural, os programas, paradoxalmente, atingem a milhões de espectadores, mesmo que a essa altura dos acontecimentos todos saibam de sua tendência nada sutil de manipulação de resultados ou edições tendenciosas. O que os estudiosos da cultura pop - sim, eles existem - não compreendem, do alto de sua arrogância erudita, é que a audiência que assiste a esses programas não procuram nada além de entretenimento puro e simples. Ninguém assiste ao "Big Brother Brasil" com objetivos outros que não seja exatamente o que todo mundo faz desde que o mundo é mundo: bisbilhotar a vida alheia e meter o bedelho - só que dessa vez com a anuência de toda uma sociedade.

Mas o assunto aqui é bem outro. "The Voice Brasil" acabou nesta quinta-feira 26 de dezembro e, como era de se esperar, suscitou as mais diversas polêmicas. O formato - alterado convenientemente para permitir manobras nem sempre claras - provou-se um grande êxito em termos de audiência, principalmente com sua mudança dos domingos à tarde para as noites de quinta-feira. Mas, se desde a escolha dos jurados já havia uma certa tendência à popularização exagerada do show - com Claudia Leitte sempre imitando as juradas da versão americana e forçando uma simpatia que não tem e Daniel tentando convencer que entende dos meandros musicais que fogem de seu estilo sertanejo/romântico - a escolha do vencedor, Sam Alves, é que causou a maior discordância entre os fãs, tanto do programa quanto dos candidatos. Com torcidas fervorosas sendo anunciadas nas redes sociais, "The Voice Brasil" substituiu, por alguns meses, as rixas esportivas. De técnicos de futebol, repentinamente, os brasileiros se transmutaram em perfeitos entendedores de música.

Normal e natural. Em um país com uma cultura musical tão rica e vasta, não há quem não goste de música e, como ocorre em qualquer situação, todos se acham os donos da verdade. Mas não deixa de ser decepcionante que um programa que diz buscar "uma voz brasileira" tenha escolhido como tal um jovem cantor que passou a maior parte da vida nos EUA e tenha, como consequência natural desse histórico, referências musicais ianques, em detrimento da nacional. Sam Alves tem uma ótima voz, sim, isso não se discute. Mas sua vitória soa mais como a vitória de alguém mais "vendável" do que alguém realmente mais promissor. Em toda a sua trajetória no programa, Sam demonstrou notável domínio vocal e carisma, mas em todas as ocasiões em que precisou sair de sua zona de conforto - leia-se músicas em inglês - não conseguiu atingir mais do que o correto. E o fato que veio à público agora - de que ele foi convidado a fazer parte do programa depois de não ter sido classificado na versão americana - apenas reitera a opinião de que sua vitória pode ter sido decidida sem a interferência do público.

Não é uma questão de xenofobia, mesmo porque é incabível esse tipo de preconceito. Mas não deixa de ser decepcionante ver que um programa que poderia revelar vozes mais potentes e calorosas, capazes de reaquecer o mercado de música brasileira, tenha se deixado levar pelo mercantilismo óbvio. Tanto não é um preconceito às avessas - que exige regionalismos tolos - que nem mesmo Lucy Alves, munida de sanfona e piano em suas apresentações e portanto, mais portadora do título de "cara brasileira" merecia sagrar-se campeã, por deixar sua personalidade ser sepultada pela lembrança de outras cantoras que fazem melhor há anos o que ela tentou fazer agora - Elba Ramalho e Amelinha, apenas para citar dois exemplos. E o Brasil é tão grande que chega a soar simplismo rotular alguém como "brasileiro". A música feita no Nordeste é igual à feita no sul? Xaxado é mais brasileiro que samba? E a bossa nova, onde se encontra nisso tudo?

Rubens Daniel cantou Beatles e Coldplay, mas saiu-se igualmente bem entoando um Guilherme Arantes das antigas, o que demonstra, no mínimo, um conhecimento mais profundo da música de seu país. Dom Paulinho Lima - que Lulu Santos erroneamente eliminou em favor da péssima Luana Camarah - tinha voz de cantor de blues, mas deu show cantando Tony Tornado quando precisou (e mesmo que o próprio Tony tenha emulado o ritmo americano em seu canto, cobriu-o com um genial toque brasileiro). Alessandra Crispim lembrava o tom de Elis Regina mas tinha personalidade própria. Marcos Lessa matava a saudade de Emílio Santiago cantando Edu Lobo e Chico Buarque. Todos eles foram preteridos por um cantor derivativo que, se não estragar a carreira cantando hinos evangélicos, irá tornar-se ídolo do mesmo público que gosta de boy bands. E se existe uma prova de que os votos foram dados ao visual mais do que às vozes e personalidades dos candidatos, a votação aberta uma semana antes da final - antes mesmo da apresentação final, note-se - já demonstra que não se pode levar a sério um programa tão nitidamente desonesto e apressado.

A música brasileira é riquíssima. Seja a sofisticação simples de Tom Jobim, a poesia métrica e social de Chico Buarque e Caetano Veloso, as vozes potentes de Angela Roro, Bethânia e Ana Carolina, a suavidade de Marisa Monte, Fernanda Takai, Vanessa da Matta, Roberta Sá, os saudosos timbres de Elis, Clara Nunes e Cássia Eller. Seja o rock melódico de Cazuza e Renato Russo, o ritmo contagiante de Alcione, a sutileza de Vinícius de Moraes e o nordeste forte de Dominguinhos, Luiz Gonzaga, Zé e Elba Ramalho. O Brasil é enorme e uma fonte inesgotável de grandes talentos. Mas, em uma época em que nenhum desses nomes toca mais - ou vende mais - do que atrocidades como Anitta, Naldo e afins, não deixa de ser previsível que uma voz rejeitada nos EUA leve o título de "A voz do Brasil".

domingo, 22 de dezembro de 2013

TRILHAS SONORAS INESQUECÍVEIS - TOP MODEL

Em 1989 o público juvenil ainda não tinha "Malhação" e já estava órfão da série "Armação ilimitada", que, com sua linguagem inovadora e personagens de fácil identificação com sua audiência havia se tornado programa obrigatório. Preenchendo esse vácuo, a novela "Top Model" estreou em setembro proporcionando ao espectador um encontro entre o folhetim clássico capaz de agradar aos fãs do gênero e o tom leve e esperto que faltava à vasta plateia adolescente - representados respectivamente pelos autores Walter Negrão e Antonio Calmon. Calmon - diretor de filmes direcionados à juventude, como "Menino do Rio" e "Garota dourada" - fazia sua estreia como autor de novelas e não poderia ter sido mais bem-sucedido. Grande sucesso no horário das 19h, "Top Model" marcou uma geração e chegou a ser reprisada meros oito meses após seu último capítulo ter sido apresentado, numa prova inconteste de seu êxito.

A trama de "Top Model" não apresentava, a rigor, nenhuma grande novidade. A protagonista, Duda Pinheiro (Malu Mader no auge da beleza e da popularidade) era uma jovem do interior que se muda para o Rio de Janeiro acompanhada da mãe, Cleide (Suzana Faini) com o objetivo de fazer carreira como modelo. Para sua sorte, logo que chega ela assume o posto de top model da confecção do empresário Alex Kundera (Cecil Thiré), a Covery. Apaixonada pelo misterioso Lucas (Taumaturgo Ferreira, marido de Malu à época, o que justifica sua escalação) - que chegou ao Rio em busca ds seu pai desconhecido, que ele julga ser Alex - Duda vê seu romance sofrer a repressão das regras impostas por seu chefe, que não quer vê-la envolvida com nenhum homem. Enquanto isso, a trama também seguia a difícil relação entre Alex e seu irmão caçula, Gaspar (Nuno Leal Maia), que mora em uma casa à beira da praia com a atual esposa Marisa (Maria Zilda então assinando Bethlem), o cachorro Maradona e os cinco filhos - todos de mães diferentes. Bem-humorado e otimista, Gaspar é o oposto do irmão mais velho e conta sempre com a ajuda da faz-tudo Naná (Zezé Polessa em sua primeira novela, substituindo Bruna Lombardi, a primeira escolha para o papel), apaixonada por ele, e do melhor amigo, Saldanha (Evandro Mesquita), dono de um quiosque de sanduíches naturais.

Os filhos de Gaspar eram os responsáveis pela ala jovem da novela, discutindo assuntos de interesse da faixa etária a que pertenciam, como virgindade, masturbação, primeira menstruação, gravidez na adolescência e primeiro amor sem ransos moralistas ou um peso inadequado. Vividos por Marcelo Faria (Elvis), Gabriela Duarte (Olivia), Carol Machado (Jane), Henrique Farias (Ringo) e Igor Lage (Lennon), os filhos de Gaspar conquistaram o público sem maior esforço, dividindo a atenção com outras figuras de destaque na trama, como Drica Moraes, que estreava gloriosamente como a empregada Cida, que vivia um amor bandido com Paulinho (o saudoso Chiquinho Brandão) e viu seu papel aumentar no decorrer da novela e Júnior (Rodrigo Penna), filho de Alex que desafogava sua carência criando brincadeiras macabras para assustar a governanta Simone (Jacqueline Lawrence).


Outro grande sucesso de "Top Model" foi a sua trilha sonora, com canções que ilustravam com precisão as histórias contadas pelos autores - e tinha a atriz Suzy Rego (a modelo Carla da novela) na capa. Se a banda Buana 4 - que cantava a música de abertura, "Eu só quero ser feliz" - não vingou, os demais intérpretes de seu LP nacional são figurinhas carimbadas do cenário pop brasileiro. Lobão marcava presença com "Essa noite não (Marcha à ré em Paquetá)", tema de Alex e Djavan apresentava a sua inesquecível "Oceano" para embalar o romance entre Duda e Lucas. Kiko Zambianchi cantava a sua versão da beatle "Hey, Jude", tema de Gaspar. "Dizer não é dizer sim", cantada por Kid Abelha era a música-tema de Elvis e Tininha (Adriana Esteves em sua primeira novela) e "Babilônia maravilhosa", do ator/cantor Evandro Mesquita ilustrava as aventuras de seu personagem, Saldanha. O lado A era encerrrado com a instrumental "Memories", tema de Jacques (Jonas Bloch) e Lia (Denise Del Vecchio), os pais do jovem Arthur (Jonas Torres), que se via dividido entre as irmãs Olivia e Jane depois de uma cirurgia no cérebro.

O lado B da trilha nacional começava com a clássica "À francesa", de Marina Lima, tema de Duda e que hoje é indissociável da personagem. "Bobagem", na voz de Léo Jaime, era o tema de Marisa e "Independência e vida", cantada por Rita Lee, emoldurava a vida de Naná. O onipresente Fábio Jr. também emprestava seu talento à trilha, com "Vida", apresentada nas cenas da hilária Cida. O romance entre Olívia e Arthur tinha como tema a bela "Fica comigo", da banda Placa Luminosa e as descobertas sexuais de Ringo eram ilustradas pela debochada "Nega bom bom", do grupo gaúcho Cascavelettes - música que cunhou a expressão "punhetinha de verão". O mundo da moda tinha como fundo musical a instrumental "Passarela", gravada por Nova Era.


O disco internacional da novela tinha a bela Malu Mader em sua capa. Richard Marx abria o álbum com "Right here waiting", tema das cenas românticas entre Duda e Lucas. Saldanha tinha suas cenas embaladas pela banda Fine Young Cannibals e sua "Don't look back" e Gaspar teve a sorte de ter seus melhores momentos ilustrados pela clássica "Stairway to heaven", da cultuada Led Zeppelin. O romance entre Arthur e Olívia mereceu como trilha internacional a bela "I don't wanna lose you", com a poderosa Tina Turner. A banda de Danny Elfman, Oingo Boingo, cantava a música do núcleo jovem da novela, "Stay" e a paixão de Naná por Gaspar tinha como comentário musical "One more time", de Phillippe Lawrence. O lado A terminava com "Albatross", tema de Marvin (Miguel Magno), que, de homossexual convicto, se viu apaixonado por uma mulher sem as polêmicas que envolvem o tema hoje em dia.

O lado B abria com Gloria Estefan e "Don't wanna lose you", tema do triângulo amoroso Olivia/Arthur/Jane e seguia com "Wish you were here", dos Bee Gees, que era a música do romance surgido entre Lucas e Giulia (Alexandra Marzo), que atrapalhava o par central em sua busca pela felicidade. Alex e Irma (Vera Holtz) tinham como música a bela "No more boleros", de Gerard Joling e a maior fraude musical do final dos anos 80, Milli Vanilli, cantava "I'm gonna miss you", tema de Marisa. "Heaven", da banda Warrant, seguia Carla (Suzy Rego) por suas cenas, assim como "Call it love" - do desconhecido grupo Poco - era o som por trás do casamento precoce entre Elvis e Tininha. Encerrando a trilha estava "Give me action", da cantora Debbie Day, que era a canção internacional dedicada à Cida - uma prova do aumento de importância da personagem de Drica Moraes.

Reapresentada recentemente pelo Canal Viva, "Top Model" mostrou que perdeu seu frescor, mostrando um texto um tanto ingênuo e frágil. Ainda assim, permanece inesquecível nos ouvidos de seu público original.

TRILHA NACIONAL:

1. EU SÓ QUERO SER FELIZ - Buana 4
2. ESSA NOITE NÃO (Marcha à ré em Paquetá) - Lobão
3. OCEANO - Djavan
4. HEY, JUDE - Kiko Zambianchi
5. DIZER NÃO É DIZER SIM - Kid Abelha e os Abóboras Selvagens
6. BABILÔNIA MARAVILHOSA - Evandro Mesquita
7. MEMORIES - Rob Little
8. À FRANCESA - Marina
9. BOBAGEM - Léo Jaime
10. INDEPENDÊNCIA E VIDA - Rita Lee
11. VIDA - Fábio Jr.
12. FICA COMIGO - Placa Luminosa
13. NEGA BOM BOM - Os Cascavelettes
14. PASSARELA - Nova Era

TRILHA INTERNACIONAL:

1. RIGHT HERE WAITING - Richard Marx
2. DON'T LOOK BACK - Fine Young Cannibals
3. STAIRWAY TO HEAVEN - Led Zeppelin
4. I DON'T WANNA LOSE YOU - Tina Turner
5. STAY - Oingo Boingo
6. ONE MORE TIME - Phillipe Lawrence
7. ALBATROSS - Vikings
8. DON'T WANNA LOSE YOU - Gloria Estefan
9. WISH YOU WERE HERE - Bee Gees
10. NO MORE BOLEROS - Gerard Jolling
11. I'M GONNA MISS YOU - Milli Vanilli
12. HEAVEN - Warrant
13. CALL IT LOVE - Poco
14. GIVE ME ACTION - Debbie Day


terça-feira, 17 de dezembro de 2013

"JÓIA RARA" É UMA PEDRA PRECIOSA NA PROGRAMAÇÃO

Em uma época em que a tentativa de inovar resultou em um produto intragável - a chata e insossa "Além do horizonte" - e que o horário nobre é preenchido por uma sucessão de diálogos risíveis (no mau sentido) e personagens mal delineados - com Walcyr Carrasco emulando de forma vergonhosa, em "Amor à vida" as tramas mexicanas que não funcionam fora do SBT - não deixa de ser um oásis assistir-se à novela das 18h, a encantadora "Jóia rara". Escrita pela dupla Thelma Guedes e Duca Rachid - que conquistaram o público com a criativa "Cordel encantado", de 2011 - a trama enfrenta problemas de audiência (em parte por causa do horário de verão em parte porque muitas vezes o público não compra a ideia, como aconteceu com a encantadora "Lado a lado", no ano passado), mas é infinitamente mais competente do que a novela das 21h - em todos os quesitos.

A bem da verdade, tudo funciona em "Jóia rara", desde a trama central até as paralelas, que caminham fluentemente não apenas para enrolar e passar o tempo - como o faz Carrasco em sua novela - mas porque tem vida própria e estão organicamente ligadas aos protagonistas. Até mesmo os núcleos cômicos, que normalmente soam falsos quando não existe inteligência para mantê-los, são engraçados e funcionais - e muito desse sucesso vem do equilíbrio entre texto, elenco talentoso e direção firme. Aliás, a direção pode ser considerada um dos pontos mais altos da novela de Guedes e Rachid: assim como o fez em "Avenida Brasil", Amora Mautner conduz seus atores no tênue limite entre o naturalismo da novela de João Emanuel Carneiro e o classicismo que o texto romântico de "Jóia rara" propõe, além de ser a principal responsável pelo extremo bom gosto visual da novela.


A fotografia de "Jóia rara" é espetacular. Desde os primeiros capítulos, no Nepal, até os apresentados recentemente, passados no Rio de Janeiro pós II Guerra, o visual criado pela produção é deslumbrante, fugindo do tradicional tom neutro que, logicamente, não combinaria com a mescla de romantismo e misticismo que circunda a história central. O cuidado com os detalhes enche os olhos da audiência: os figurinos e os cenários seguem o padrão de qualidade global, mas sente-se nitidamente que a obsessão com a reconstituição de época correta não afeta em nada o cuidado com a emoção - que transborda sem parecer piegas no texto excelente das autoras, que não abdicam de nenhuma das regras básicas do folhetim para contar uma história humana, simples e recheada de personagens críveis interpretados por um elenco de ouro.

Como casal central, Bruno Gagliasso e Bianca Bin funcionam às mil maravilhas. Bin, inclusive, deixa pra trás a péssima impressão de sua atuação como a vilã Carolina do remake desastroso de "Guerra dos sexos", fazendo de sua Amelinha uma mulher forte e determinada como deve ser uma boa mocinha de folhetim. Os vilões, Carmo Dalla Vecchia e José de Abreu não deixam a desejar - se o segundo não precisa provar mais nada a ninguém (especialmente depois de seu genial Nilo, de "Avenida Brasil"), o primeiro dá suas escorregadas nas caras e bocas, mas de certa forma elas cabem na sua construção do recalcado Manfred, que encontra na fantástica Ana Lúcia Torre uma comparsa à altura. Os demais pares românticos também merecem destaque: Mariana Ximenes brilha com sua Aurora Lincoln apaixonada pelo veterano de guerra paraplégico Davi (Leandro Lima), Nathalia Dill encontrou o tom certo de sua Silvia, vilã apaixonada pelo filho de seu desafeto (Rafael Cardoso) e até mesmo o romance proibido entre o monge Sonan (Caio Blat) e a desinibida Matilde (Fabíula Nascimento, ótima) convence sem precisar nem mesmo de um beijo. Ao redor de todas essas histórias de amor - essenciais a uma boa novela - circulam personagens trágicos (como Gaia, a sobrevivente do Holocausto vivida por Ana Cecília Costa que retorna ao Brasil e encontra o marido casado com outra mulher) e engraçados (como Joel, o empresário de Aurora, vivido com graça por Marcelo Médici). Os destaques são inúmeros, mas é impossível não dar a devida atenção à pequena Mel Maia.

Revelada em "Avenida Brasil", Mel é um destaque à parte em "Jóia rara": no papel crucial de Pérola, a menina que é a reencarnação de um monge budista dá um show de talento e naturalidade, fazendo de sua personagem algo encantador. Por causa dela - e da atmosfera bem criada por texto e direção - o tom místico da história soa verdadeiro: em nenhum momento se duvida dos poderes de Pérola de curar as pessoas que ama ou ter premonições - e mesmo quem não se deixa seduzir por esse tom religioso tem muito mais a admirar, inclusive a excepcional trilha sonora, que resgata grandes nomes da MPB em gravações originais. Em quantos programas de hoje você consegue ouvir Elis, Caetano, Gil, Bethânia, Milton Nascimento, Chico Buarque e Zizi Possi?

"Jóia rara" é uma novela. Simples assim. Tem o bem e o mal definidos, núcleo cômico funcional, histórias de amor e um pano de fundo histórico que não invade o que a dramaturgia tem de bom. Maniqueísta? Talvez, mas nada paga a chance de se torcer claramente por um final feliz. Aprenda, Walcyr Carrasco.

sábado, 14 de dezembro de 2013

TRILHAS SONORAS INESQUECÍVEIS - MANDALA

A novela não foi grande coisa. A promessa de trazer o mito de Édipo para os dias atuais - situando o romance entre Jocasta e Laio no auge da ditadura militar - e a ousadia de contar uma história de amor entre mãe e filho que não sabiam de tal condição não encontrou fôlego para uma narrativa longa e ainda foi prejudicada pela ação da Censura, que não viu com bons olhos a sinopse da trama de Dias Gomes - talvez lhes fosse saudável conhecer um pouco mais sobre teatro grego, afinal. Acontece que "Mandala" não ficou marcada no imaginário popular, a despeito de alguns personagens populares, como o bicheiro Tony Carrado, vivido por Nuno Leal Maia na sua melhor atuação de sua carreira.

Porém, se a trama deixou a desejar, a trilha sonora da novela agradou em cheio. Tanto a versão nacional - que inclui a hoje clássica "O amor e o poder" - quanto a internacional - que conta com Whitney Houston, U2 e Duran Duran, entre outros - são infinitamente superiores ao que a Globo lança hoje em dia (com raríssimas exceções). Para estrear a sessão "Trilhas Inesquecíveis", vamos relembrar as canções que fizeram parte da vida dos espectadores globais entre outubro de 1987 e maio de 1988.


O lado A - sim, a trilha é do tempo dos discos de vinil - começa com a música de abertura da novela, a instrumental "Mitos", de César Camargo Mariano, que já dava o tom místico que Dias e Marcílio Moraes tentavam imprimir à trama - Laio (Taumaturgo Ferreira na primeira fase, Perry Salles na segunda) tinha um guru, Argemiro (Marco Antonio Pâmio dividindo o papel com Carlos Augusto Strazzer), com quem mantinha uma amizade bastante suspeita, nunca explorada a contento, provavelmente devido ao olho vigilante da Censura. A segunda música da trilha - que tem Vera Fischer na capa, esbanjando a beleza que havia privado dos telespectadores por seis anos de um auto-exílio nos palcos - é "Viagem ao fundo do ego", da banda Egotrip, que ilustrava as aventuras do publicitário Édipo (Felipe Camargo) em Brasília, onde morava com os pais adotivos (Angela Leal e Oswaldo Loureiro) ou no Rio de Janeiro, para onde se muda no início da novela. Depois, é a vez de "Dou-não-dou", na voz de Djavan, música-tema do romance juvenil entre Laio e Jocasta (Giulia Gam estreando em novelas com destaque merecido). "O amor e o poder", que levou Rosana aos primeiros lugares das paradas de sucesso, é a quarta faixa, embalando os devaneios românticos da protagonista interpretada por Vera (e cujo "como uma deusa" do refrão inspirou o apelido da personagem, dado pelo eterno apaixonado Tony Carrado).

Alceu Valença vem logo em seguida com "Bobo da corte", tema do octogenário Vovô Pepê (Paulo Gracindo), avô de Jocasta que dava trabalho à família com suas tiradas aparentemente sem sentido. A bela "Um dia, um adeus", de Guilherme Arantes, era o tema de amor entre Vera (Imara Reis) e Creonte (Gracindo Jr.), irmão de Jocasta. "Meu mestre coração", na voz tranquila de Milton Nascimento, era a moldura perfeita para Gerson (Osmar Prado), outro irmão de Jocasta, que volta ao Brasil depois de anos, transformado em monge budista e se apaixona por Mariana (Bia Seidl). E o primeiro lado encerrava-se com "A paz", obra-prima de Gilberto Gil, gravada por Zizi Possi. A linda canção acompanhava Letícia (Lúcia Veríssimo), namorada de Édipo, que posteriormente tem que brigar por ele com Jocasta.

O lado B da trilha nacional de "Mandala" é aberto com "Eu já tirei a tua roupa", que tem em Wando o intérprete ideal para comentar a paixão obsessiva de Tony Carrado por Jocasta. "Personagem", cantada por Fafá de Belém, vem logo em seguida, sendo a música dos pais adotivos de Édipo, Mercedes (Angela Leal) e Américo (Oswaldo Loureiro). "Eu quero o absurdo", na doce voz da atriz Tânia Alves é a terceira faixa, tema de Eurídice (Aída Leiner), que se envolve em um relacionamento com Apolinário Santana (Milton Gonçalves), um político casado. Zeca Pagodinho - longe de ser a quase unanimidade nacional que é hoje - comparece com "Tempo de Don Don", música do personagem de Milton. Via Negromonte - hoje atriz e casada com Nelson Xavier - é a intérprete de "Preconceito", tema de Marlucy (Anna Gallo). "Perdão", com o grupo Areia Quente, era o tema de Débora (Maria Ferreira), enquanto a banda gaúcha Garotos da Rua emplacou "Eu já sei", que era a música de Toninho (Jandir Ferrari), filho de Carrado que se envolve com Marlucy. O disco encerra com outra composição de César Camargo Mariano, "Uma mulher", também dedicada à Jocasta.


O LP internacional contava com Lúcia Veríssimo na capa. Deslumbrante, ela vinha de uma crise pessoal que resultou na sua demissão da Globo à época da novela "Roda de fogo" e encantava o público como Letícia, a apaixonada noiva de Édipo. O disco abria com "A matter of feeling", canção da banda Duran Duran que era trilha do romance entre Toninho e Marlucy. O tema de Jocasta era a linda "Didn't we almost have it all", na voz saudosa de Whitney Houston e a trilha seguia com "Sugar free", do grupo Wa Wa Nee e a inesquecível "With or without you", do U2. Letícia tinha seus dramas comentados por Glenn Medeiros e sua "Nothing's gonna change my love for you" e Little Stevens marcava presença com "Bitter fruit". O primeiro lado acabava com "No conversation", tema de Vera, cantado pelo grupo View from the hill.

O lado B começava muito bem, com a hoje clássica "Luka", da cantora folk norte-americana Suzanne Vega e segue com "Never say goodbye", do galã Bon Jovi - tema de amor entre Gerson e Mariana. Lisa Lisa & The Cult Jam, famosíssimos nos anos 80, apresentavam "Lost in emotion", enquanto Cutting Crew invadia as rádios com "I've been in love before", que ilustrava as emoções de Tony Carrado. A vida agitada de Édipo era comentada pela agitada "Let the sun shine in your heart", da banda Wind e a atualmente vintage Tiffany deixava sua marca com seu maior hit "I think we're alone now". Fechando o álbum, Kenny G. mostrava sua técnica com a bela "Songbird", que muito embalou romances nascidos em sua época.

Mesmo que tenha sido uma novela que não vale a pena ver de novo, "Mandala" mantém seu título de uma das mais interessantes trilhas sonoras, que sobrevive ao tempo, apesar de tudo. Afinal, quem nunca cantou "como uma deusaaaaa" a plenos pulmões não sabe o que é ser brega.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

PORQUE "PÉ NA COVA" É TÃO BOM...

Consagrado como um dos dramaturgos mais populares do Brasil, Miguel Falabella nunca teve a mesma sorte em suas incursões nas telenovelas. Ainda que sua estreia como autor do gênero - "Salsa e merengue", de 1996, co-escrita com Maria Carmem Barbosa - tenha tido alguns fiéis fãs, suas tramas seguintes variaram entre o apenas simpático - "A lua me disse" (1995) e "Aquele beijo" (2011) - e o simplesmente equivocado do início ao fim - "Negócio da China" (2008). Como criador e roteirista de séries, porém, ele teve mais sorte, haja visto o enorme sucesso de "Sai de baixo" e "Toma lá, dá cá". Mas nenhum de seus projetos anteriores alcançou o equilíbrio perfeito que sua atual obra atinge. "Pé na cova" é, provavelmente, o melhor programa da TV aberta da atualidade, com sua mescla de crítica social, humor inteligente e pitadas de um sentimentalismo quase ingênuo que explicita o carinho absurdo do autor com seus personagens - e com a humanidade em geral.

No texto final de sua bem-sucedida peça de teatro "Loiro, alto, solteiro procura...", Falabella deixava bem clara a sua admiração pela raça humana, pelas pessoas, com suas idiossincrasias, defeitos, mesquinharias e grandezas. Isso fica óbvio quando se assiste a qualquer episódio de "Pé na cova": o texto do autor - que tem entre seus colaboradores o jornalista Artur Xexéo e o dramaturgo Flávio Marinho - não se exime de demonstrar a generosidade do criador para com suas criaturas, sejam elas pessoas tentando ser normais, como o "vereador eleito pelo povo" Alessanderson Pereira (Daniel Torres) - ou gente que parece ter saído de um filme de Pedro Almodovar como o travesti Marcão/Markassa (Maurício Xavier) e sua irmã lésbica, Tamanco (a cantora Mart'nália). Mesmo que frequentemente haja o exagero imprescindível à comédia, os roteiros nunca deixam de ser redondos e antenados à realidade do país: em um episódio recente, uma greve de coveiros obrigou a "importação" de funcionários cubanos e em outro um grupo de detratores das políticas populistas de Alessanderson se vestiram de black blocks para vandalizar uma obra pública.


Para quem não sabe do que se trata, "Pé na cova" conta a história de uma família proprietária de uma funerária, chamada FUI (Funerárias Unidas do Irajá) que luta diariamente pela sobrevivência, enquanto lida também com os problemas inerentes à qualquer núcleo familiar. O patriarca Ruço (o próprio Falabella, despido da arrogância de seus personagem mais famoso, Caco Antibes) é separado da primeira mulher, Darlene (Marilia Pêra, genial na construção de mais uma personagem icônica em sua carreira), que, a despeito de seu vício em gim, é diplomada em maquiar os cadáveres que chegam à funerária. Casado pela segunda vez com uma mulher bem mais jovem, Abigail (Lorena Comparato) - com quem tem um filho bebê - ele é pai também de Alessanderson, um político demagogo e de Odete Roitman (Luma Costa), que ganha dinheiro exibindo o corpo na Internet e é casada com o mecânico Tamanco, com quem tem um filho adotivo. Em sua casa vivem também a emprega Adenoide (Sabrina Korgut) - que dorme em um dos caixões da empresa - e Babá (Niana Machado), que cuidava dele quando criança e hoje sofre de demência generalizada. A seu redor, no bairro de Irajá, circulam outras criaturas bizarras, que, apesar de suas particularidades, se encaixam com perfeição no universo da narrativa.

A maior qualidade de "Pé na cova" - além da química espetacular entre Falabella e Marília Pêra - é a forma como o roteiro trata as relações interfamiliares. Mesmo que ninguém na família Pereira seja exatamente um exemplo de ética ou de inteligência, existe, entre eles, um amor incondicional emocionante. Não há, entre as personagens, julgamentos morais agressivos ou ressentimentos doentios. A aparente disfuncionalidade do clã é imediatamente coibida quando se percebe que, mesmo diante de sérios problemas - sempre tratados com leveza pelos diálogos bem sacados dos autores - eles tem uns aos outros. Quando a família está reunida a série cresce, arrancando sorrisos e talvez até lágrimas, com sua maneira particular e corajosa de resolver seus problemas. Diante de tanto baixo-astral vindo da novela das nove, é um oásis de ar fresco.

Dirigida com brilhantismo por Cininha de Paula e escrita com rara inspiração, "Pé na cova" já tem, felizmente, uma terceira temporada garantida. Ao contrário do texto insosso de "Tapas e beijos" e do humor requentado de "A grande família", é programa obrigatório aos fãs de uma comédia sutil e inteligente.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

OS INÚMEROS EQUÍVOCOS DE "AMOR À VIDA"


Walcyr Carrasco tem um currículo invejável de sucessos no horário das 18h da Globo. Levam sua assinatura a deliciosa "O cravo e a rosa" - atualmente em sua re-reprise no "Vale a pena ver de novo", o que comprova sua popularidade -, a simpática "Chocolate com pimenta" e a bela "Alma gêmea". Para o horário das 19h ele escreveu "Sete pecados", "Caras e bocas" e "Morde e assopra" - nenhuma digna de muito louvor. Antes de chegar ao horário mais almejado pelos novelistas brasileiros, ele ainda adaptou a clássica "Gabriela", que dividiu opiniões. Agora, ele está no ar, comandando a novela das nove, a menina dos olhos da emissora carioca. Desde que estreou, em maio - com um primeiro capítulo primoroso que prometia um banho em sua sofrível predecessora "Salve Jorge" - "Amor à vida" foi caindo pouco a pouco, misturando situações inverossímeis, personagens insuportáveis, tramas desnecessárias e alguns elementos que não caem bem nem mesmo em "Zorra Total". Com uma audiência generosa - que chegou a bater nos 49 pontos na cena em que seu vilão Félix (Mateus Solano) é desmascarado - a novela de Walcyr, porém, não escapa de ser uma das mais vergonhosas tramas do horário - e isso que ele tem que disputar o título com as historinhas tenebrosas de Aguinaldo Silva...


Entre mortos e feridos quase ninguém se salva. Então que tal fazer uma pequena lista das coisas que estão MUITO erradas na novela que tem feito o Brasil questionar o seu hábito de manter-se no sofá depois do Jornal Nacional?

1. PROTAGONISTAS SEM CARISMA - Paolla Oliveira enfrentou uma enorme resistência do público quando foi a mocinha de "Insensato coração", em 2011, substituindo Ana Paula Arósio, que abandonou a novela antes da estreia. Quem achava que era porque a personagem era fraca deve estar mudando de ideia agora, quando novamente a atriz não diz a que veio, nem mesmo em cenas onde deveria mostrar mais do que uma expressão apática. Junte-a com Malvino Salvador, um dos piores atores a surgir nos últimos anos e pronto: um casal central que não desperta mais do que sono.

2. PERSONAGENS SEM CONSISTÊNCIA: O Ninho de Juliano Cazarré já mudou de personalidade umas três vezes desde o começo da novela. A Amarylis de Danielle Winnits de mulher apaixonada transformou-se em bruxa de contos de fadas, sendo má apenas por ser má. O Herbert de José Wilker - além de ser interpretado por um ator extremamente superapreciado - gostava de Gina e de uma hora pra outra voltou a apaixonar-se por Ordália, além de estar dando corda para Edith - que também não sabe se gosta ou odeia o ex-marido Félix. A Aline de Vanessa Giácomo já começou a odiar o filho bebê - coisa que era previsível mas nunca havia sido demonstrada previamente. Pilar amava desesperadamente o marido e agora está assanhada entre o médico bonitão Jacques e o motorista marginal Maciel. E esses são apenas alguns exemplos de como os personagens da novela não tem uma linha coerente de existência.


3. TRAMAS EM UM ETERNO LOOPING: Lógico que deve ser dificílimo criar histórias por meses e meses a fio para preencher quase duas horas diárias de material, mas nada justifica que uma emissora como a Globo permita que algumas das tramas de "Amor à vida" sejam tão, mas tão insuportáveis e estagnadas. Um exemplo perfeito? Qual a moral do casal Michel (Caio Castro) e Patrícia (Maria Casedavall)? A princípio eles não queriam compromisso. Depois, não queriam transar em motel porque não gostavam. E agora, do nada, são clientes habituais de um motel (o único da cidade de São Paulo, pelo visto) que tem apenas uma garrafa de champagne - e que também é frequentado por seus cônjuges Guto (Márcio Garcia) e Sílvia (Carol Castro). Aliás, Guto e Sílvia se envolveram para vingar-se de suas caras-metades (o motivo é uma incógnita, já que ele traiu a mulher na lua-de-mel e ela teve o marido a seu lado durante um câncer de mama que, assim como surgiu, foi embora). Se Carrasco quer que o público fique ansioso pelo encontro dos quatro no motel ele já conseguiu: nem tanto para ver a cena, mas para acabar com essa palhaçada de uma vez por todas.

4. DESFILE DE DOENÇAS: Parece a música "O pulso", dos Titãs: toda e qualquer enfermidade já diagnosticada já foi debatida na novela - com um nível de superficialidade de dar pena. Leucemia, lúpus, câncer de mama, alcoolismo, TOC, AIDS, autismo e outras mais não são tratadas com respeito ou informação e sim como forma de matar o tempo. Seria bom discutí-las, mas não dessa maneira.


5. ATORES RUINS: Tudo bem que Mateus Solano anda dando banhos e mais banhos de atuação como Félix e Antonio Fagundes faz o que pode com seu absurdamente parvo César, mas o elenco de "Amor à vida" tem alguns atores que dão vergonha só de assistir. Além de Paolla Oliveira e Malvino Salvador - que são humilhados diariamente até mesmo pela menina Klara Castanho - podemos citar Caio Castro, Fernanda Machado, Sophia Abrahão (que entrou para substituir a igualmente péssima Marina Ruy Barbosa em uma trama que poderia muito bem ser limada), Lucas Malvacini, Anderson Di Rizzi, Carolina Kasting, José Wilker (sim, ele é péssimo, reconheçamos!), Marcello Antony, Júlio Rocha... É gente ruim demais para uma única novela. E deixam de lado a excelente Leona Cavalli, vai entender.

6. TEXTO FRACO: O que se esperar de uma novela com diálogos como: "Vou levar meu filho embora." "Não vai, não." "Vou, sim." "Não vai, não."... Que saudade de Gilberto Braga!!!

7. HUMOR PASTELÃO: Carrasco precisa entender que "Amor à vida" não é "Zorra total", apesar de Fabiana Karla com sua insuportável Perséfone. Sendo assim, que tal parar de tentar fazer humor com o batidíssimo manual de boas maneiras com Valdirene (que começou a novela com um frescor que está se esvaindo graças às ideias sem graça do autor) ou com o funk inenarrável de Carlito? E que tal Márcia parar de gritar em TODAS as suas cenas? E que tal Félix deixar para destilar seu veneno em ocasiões em que ele caiba? Não é possível que alguém na pior vá continuar fazendo piadinhas...

8. INGENUIDADE EXCESSIVA: Tudo bem que em uma novela é preciso que os vilões passem a perna nos mocinhos, até mesmo para que haja a bem-vinda catarse que é o desmascaramento (haja visto o recorde de audiência com Felix mostrando sua verdadeira face). Mas "Amor à vida" abusa da boa-vontade do público. César é um babão cego e trouxa. Paloma acredita até em cartomante. Eron (Marcello Antony) crê em tudo que Amarylis diz, mesmo com todas as provas diante do nariz. O público nem torce por eles, de tão boca-abertas que são. E sem que o público tenha para quem torcer, o resultado é péssimo.

9. PROPAGANDAS MAL-INSERIDAS: Alguém realmente acha natural a maneira com que o merchandising é inserido na novela? Seja de programas da própria Globo - elogiados constrangidamente pelos personagens -, de produtos ou instituições - lâminas de barbear em close ou o Itaú (argh) em destaque - ou até mesmo de livros - inclusive Paulo Coelho, salve-se quem puder - tudo soa falso, artificial e mais engessado do que teatro de escola. É de rir para não chorar.

A lista de erros de "Amor à vida" é imensa e poderia continuar indefinidamente. Mas essa pequena parcela de equívocos citada aqui já dá uma mostra de que Walcyr Carrasco terá que reciclar-se urgentemente para sua próxima incursão ao horário. Ou então teremos meses de férias da telinha.