terça-feira, 3 de dezembro de 2013

OS INÚMEROS EQUÍVOCOS DE "AMOR À VIDA"


Walcyr Carrasco tem um currículo invejável de sucessos no horário das 18h da Globo. Levam sua assinatura a deliciosa "O cravo e a rosa" - atualmente em sua re-reprise no "Vale a pena ver de novo", o que comprova sua popularidade -, a simpática "Chocolate com pimenta" e a bela "Alma gêmea". Para o horário das 19h ele escreveu "Sete pecados", "Caras e bocas" e "Morde e assopra" - nenhuma digna de muito louvor. Antes de chegar ao horário mais almejado pelos novelistas brasileiros, ele ainda adaptou a clássica "Gabriela", que dividiu opiniões. Agora, ele está no ar, comandando a novela das nove, a menina dos olhos da emissora carioca. Desde que estreou, em maio - com um primeiro capítulo primoroso que prometia um banho em sua sofrível predecessora "Salve Jorge" - "Amor à vida" foi caindo pouco a pouco, misturando situações inverossímeis, personagens insuportáveis, tramas desnecessárias e alguns elementos que não caem bem nem mesmo em "Zorra Total". Com uma audiência generosa - que chegou a bater nos 49 pontos na cena em que seu vilão Félix (Mateus Solano) é desmascarado - a novela de Walcyr, porém, não escapa de ser uma das mais vergonhosas tramas do horário - e isso que ele tem que disputar o título com as historinhas tenebrosas de Aguinaldo Silva...


Entre mortos e feridos quase ninguém se salva. Então que tal fazer uma pequena lista das coisas que estão MUITO erradas na novela que tem feito o Brasil questionar o seu hábito de manter-se no sofá depois do Jornal Nacional?

1. PROTAGONISTAS SEM CARISMA - Paolla Oliveira enfrentou uma enorme resistência do público quando foi a mocinha de "Insensato coração", em 2011, substituindo Ana Paula Arósio, que abandonou a novela antes da estreia. Quem achava que era porque a personagem era fraca deve estar mudando de ideia agora, quando novamente a atriz não diz a que veio, nem mesmo em cenas onde deveria mostrar mais do que uma expressão apática. Junte-a com Malvino Salvador, um dos piores atores a surgir nos últimos anos e pronto: um casal central que não desperta mais do que sono.

2. PERSONAGENS SEM CONSISTÊNCIA: O Ninho de Juliano Cazarré já mudou de personalidade umas três vezes desde o começo da novela. A Amarylis de Danielle Winnits de mulher apaixonada transformou-se em bruxa de contos de fadas, sendo má apenas por ser má. O Herbert de José Wilker - além de ser interpretado por um ator extremamente superapreciado - gostava de Gina e de uma hora pra outra voltou a apaixonar-se por Ordália, além de estar dando corda para Edith - que também não sabe se gosta ou odeia o ex-marido Félix. A Aline de Vanessa Giácomo já começou a odiar o filho bebê - coisa que era previsível mas nunca havia sido demonstrada previamente. Pilar amava desesperadamente o marido e agora está assanhada entre o médico bonitão Jacques e o motorista marginal Maciel. E esses são apenas alguns exemplos de como os personagens da novela não tem uma linha coerente de existência.


3. TRAMAS EM UM ETERNO LOOPING: Lógico que deve ser dificílimo criar histórias por meses e meses a fio para preencher quase duas horas diárias de material, mas nada justifica que uma emissora como a Globo permita que algumas das tramas de "Amor à vida" sejam tão, mas tão insuportáveis e estagnadas. Um exemplo perfeito? Qual a moral do casal Michel (Caio Castro) e Patrícia (Maria Casedavall)? A princípio eles não queriam compromisso. Depois, não queriam transar em motel porque não gostavam. E agora, do nada, são clientes habituais de um motel (o único da cidade de São Paulo, pelo visto) que tem apenas uma garrafa de champagne - e que também é frequentado por seus cônjuges Guto (Márcio Garcia) e Sílvia (Carol Castro). Aliás, Guto e Sílvia se envolveram para vingar-se de suas caras-metades (o motivo é uma incógnita, já que ele traiu a mulher na lua-de-mel e ela teve o marido a seu lado durante um câncer de mama que, assim como surgiu, foi embora). Se Carrasco quer que o público fique ansioso pelo encontro dos quatro no motel ele já conseguiu: nem tanto para ver a cena, mas para acabar com essa palhaçada de uma vez por todas.

4. DESFILE DE DOENÇAS: Parece a música "O pulso", dos Titãs: toda e qualquer enfermidade já diagnosticada já foi debatida na novela - com um nível de superficialidade de dar pena. Leucemia, lúpus, câncer de mama, alcoolismo, TOC, AIDS, autismo e outras mais não são tratadas com respeito ou informação e sim como forma de matar o tempo. Seria bom discutí-las, mas não dessa maneira.


5. ATORES RUINS: Tudo bem que Mateus Solano anda dando banhos e mais banhos de atuação como Félix e Antonio Fagundes faz o que pode com seu absurdamente parvo César, mas o elenco de "Amor à vida" tem alguns atores que dão vergonha só de assistir. Além de Paolla Oliveira e Malvino Salvador - que são humilhados diariamente até mesmo pela menina Klara Castanho - podemos citar Caio Castro, Fernanda Machado, Sophia Abrahão (que entrou para substituir a igualmente péssima Marina Ruy Barbosa em uma trama que poderia muito bem ser limada), Lucas Malvacini, Anderson Di Rizzi, Carolina Kasting, José Wilker (sim, ele é péssimo, reconheçamos!), Marcello Antony, Júlio Rocha... É gente ruim demais para uma única novela. E deixam de lado a excelente Leona Cavalli, vai entender.

6. TEXTO FRACO: O que se esperar de uma novela com diálogos como: "Vou levar meu filho embora." "Não vai, não." "Vou, sim." "Não vai, não."... Que saudade de Gilberto Braga!!!

7. HUMOR PASTELÃO: Carrasco precisa entender que "Amor à vida" não é "Zorra total", apesar de Fabiana Karla com sua insuportável Perséfone. Sendo assim, que tal parar de tentar fazer humor com o batidíssimo manual de boas maneiras com Valdirene (que começou a novela com um frescor que está se esvaindo graças às ideias sem graça do autor) ou com o funk inenarrável de Carlito? E que tal Márcia parar de gritar em TODAS as suas cenas? E que tal Félix deixar para destilar seu veneno em ocasiões em que ele caiba? Não é possível que alguém na pior vá continuar fazendo piadinhas...

8. INGENUIDADE EXCESSIVA: Tudo bem que em uma novela é preciso que os vilões passem a perna nos mocinhos, até mesmo para que haja a bem-vinda catarse que é o desmascaramento (haja visto o recorde de audiência com Felix mostrando sua verdadeira face). Mas "Amor à vida" abusa da boa-vontade do público. César é um babão cego e trouxa. Paloma acredita até em cartomante. Eron (Marcello Antony) crê em tudo que Amarylis diz, mesmo com todas as provas diante do nariz. O público nem torce por eles, de tão boca-abertas que são. E sem que o público tenha para quem torcer, o resultado é péssimo.

9. PROPAGANDAS MAL-INSERIDAS: Alguém realmente acha natural a maneira com que o merchandising é inserido na novela? Seja de programas da própria Globo - elogiados constrangidamente pelos personagens -, de produtos ou instituições - lâminas de barbear em close ou o Itaú (argh) em destaque - ou até mesmo de livros - inclusive Paulo Coelho, salve-se quem puder - tudo soa falso, artificial e mais engessado do que teatro de escola. É de rir para não chorar.

A lista de erros de "Amor à vida" é imensa e poderia continuar indefinidamente. Mas essa pequena parcela de equívocos citada aqui já dá uma mostra de que Walcyr Carrasco terá que reciclar-se urgentemente para sua próxima incursão ao horário. Ou então teremos meses de férias da telinha.

Um comentário:

  1. Ótimo texto e desabafo crítico Clênio. Você já deve saber que gosto de uma boa soup opera, mas iremos concordar na inverossimilhança e vergonha que esta se seguindo a trama de Walcyr. Uma pena. Torcia pela novela como substituta da péssima Salve Jorge! Ultimamente tenho me decepcionado com os grandes mestres, até mesmo Gilberto Braga (Insensato <3 tb odiei), Aguinaldo (Fina Estampa, 50tinha, enfim, tudo que vem escrevendo desde Duas Caras...) e até mesmo o Meneco (Viver a vida, Uó!).

    E as propagandas do Itaú...afff, rs até apareceu em A Próxima Vítima, rs!


    Abraço.

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